Textos

Dúvidas...
Querido amigo,
    Hoje, permita-me expressar uma dúvida atroz que tem me atormentado pela falta de completo entendimento sobre o assunto. Por mais tolo que seja o que a seguir expressarei, peço que leia a fim de algum dia, quem sabe, você poder dirimir as dúvidas que me assolam...Com certeza você achará graça de uma dúvida tão pueril e aparentemente desarrazoada...Mas enfim, como não contar-lhe os meandros do que me vai na alma?
     Bom, o assunto que me traz até aqui se refere a grande dificuldade que percebo nas relações entre os casais...se é esse o nome que posso dar a relacionamentos fulminantes, repletos de possibilidades e esperanças que se dissolvem ao vento diante dos mil estratagemas da conquista...E é aí que resume a minha grande dúvida. Tenho ouvido com muita frequência, seja das amigas, amigos e nos filmes que nos fazem rir ou chorar de que, no jogo da conquista, você não pode...Não DEVE expressar ao outro o seu querer, o seu afeto, o seu amor...Fazer isso, na concepção dos amigos e amigas preocupados em que o relacionamento dê certo, é o mesmo que fazer naufragar o navio antes mesmo que saia do cais...Aí fico a me perguntar: então o que é possível fazer? Como não dizer a quem se ama o quanto do amor que  se sente? Como não expressar a preocupação, o zelo e o carinho para aquele que nos conquista o coração? Tenho dificuldade para entender o jogo da conquista, em especial nesse quesito...Expressar o que nos vai na alma, nesta vertente, é o mesmo que despir-se de interesse e fazer com que o suposto interessado corra léguas de você...Significa na linguagem contemporânea: deixar o outro no vácuo...e com certeza com cara de bobo. Aí é onde mora a complicação. Parece que o interesse, no bojo e nos arroubos da paixão, só pode ser demonstrado pelo interesse explícito em ser parceiro na cama e não na vida. Parece que apenas, neste interstício de tempo entre o convite e a sedução, é possível demonstrar afeto e interesse...porque o momento que se segue, após as volúpias do encontro representam a indecifrável arena do "talvez" e do "amar sem expectativas, sem futuro..."
     Essa constatação tem gerado em mim uma curiosa sensação de vazio. Então é impossível manifestar o seu interesse por quem você nutre afeto...isso assusta...isso sufoca...isso afasta...isso faz perder o interesse...Pelo menos é isso que tenho escutado. Certa vez fiz uma pergunta a um amigo, quando ele aconselhava uma outra amiga, a não expressar o que sentia pelo homem amado. Ele afirmava: "não manda mensagem, não manda recados...não escreva cartas...não deixa ele perceber o quanto você gosta dele..." E foi aí que perguntei: "então quando vai ser possível falar para o outro que o ama?". Pelo silêncio desse amigo, percebi a resposta: "Nunca..." Então, nunca será possível amar e dizer que se ama alguém. Perdoe-me pela visão romântica, daquele amor que brota sem muito querer e que nos invade a alma e nos torna plenos, felizes e que se expressa pelo carinho, pelo cuidado, pela docilidade em se dizer o quanto o outro nos importa e que poderia ser expresso aos quatro ventos em um só grito: "Amo Você!"
      Por certo os Dom Quixotes já não mais existem porque não há donzelas a serem salvas...e talvez nestas minhas inquietações seja eu mesma quixotesca imaginando a possibilidade de vencermos os gigantes do medo em parecermos ridículos, em permitir que o amor se expresse das inúmeras formas sem medo de não ser amado, e com a certeza de que é possível amar...
     Ah, meu querido amigo, tenho visto homens literalmente afastar-se de mulheres, apenas pelo fato de que elas dizem o que pensam, o que sentem por eles...e estes mesmos homens parecem preferir mulheres que, como um iô iô, os tratam...uma hora querem e buscam, outra hora não querem e os afastam...e como alguns consomem os anos no meio destes relacionamentos bumerangues...que por mais que voltem para o mesmo lugar, nunca realmente saíram dele.  E não posso culpabilizar o sexo masculino, porque as próprias mulheres menosprezam homens que se sacrificariam por elas por outros que jamais o farão...Quanto descompasso nesse jogo de aproxima e afasta...Já não considero isso uma dança, mas um ciclo vicioso por onde gravitam relacionamentos passageiros, paralelos querendo preencher o vazio que o outro provoca...Não sei o que dizer, como definir os tortuosos descaminhos desse afeto retorcido pelo qual os amantes transitam...
    E em meus devaneios fico pensando: haverá algum afeto sincero, franco, sem amarras, sem freio de mão puxado, sem medo de se entregar, de permitir que o outro faça parte da nossa vida e nós da vida do outro? Confesso, que cada vez mais me aborreço com esses jogos de silêncios velados, de distância calculada, de interesses passageiros e de sentimentos que só podem ser expressos no furor do que rola embaixo dos lençóis e nas quatro paredes do motel. Creio que cansei do amor sem expectativas e que, como contrato de risco, entre os amantes pactua com distância, vazio e solidão... Com certeza estás a sorrir...Imagino, que você como homem, possa me achar piegas...Mas é assim que minha cabeça inquieta fica a devanear procurando entender como a quietude de um abraço, o carinho de mãos dadas, de passos caminhando juntos perdeu espaço na arena da conquista e da sedução...Enfim, preciso pensar melhor sobre tudo isso...Enquanto isso coleciono histórias, revivo na memória os constantes distanciamentos vividos e sofridos pelos afetos não correspondidos...e sinceramente espero que com você seja diferente...e peço que me permita dizer-te o quanto do afeto que por ti sinto...Peço apenas: não fuja, não tema...e tenha a certeza que o amor não acorrenta, não sufoca, não obriga, não mata nem a minha e nem a sua individualidade...Ele une, conforta, consola, abriga, acolhe, direciona nossa alma para um rumo melhor, nos torna fortes, nos faz amigos, nos dá a plenitude e a certeza de que não sucumbiremos um dentro do outro em um caos febril...seremos o que somos, mas com certeza melhores do que seríamos se nunca tivéssemos nos encontrado...E é com toda a coragem do mundo que digo e repito: AMO VOCÊ!


Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 23/09/2014
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