A Estrela Cadente
Querido,
Hoje faz um frio intenso por estas paragens e estou aqui...com céu azul de brigadeiro, um sol que não vence o frio trazido pelo inverno. Estou encasacada, ensacada literalmente e ainda não me livrei de todo do vírus que consumiu a minha voz e que ao se replicar em mim, me trouxe calafrios e indisposição...Mas decidi enfrentá-lo: agasalhei-me e sai para trabalhar a fim de que as atividades igualmente distraiam a doença e ela resolva ir embora...Você poderá reclamar que não estou a cuidar-me. E eu lhe digo que ainda não me encontro em um estágio de adoecimento que me impossibilite de fazer o que faço. Os compromissos não podem ser adiados e portanto, não há o que discutir, apenas executar...
Mas o motivo que me trouxe hoje para você não foi para queixar-me dos dissabores de um resfriado sazonal e nem inquietar-te com as fragilidades momentâneas do meu corpo. O motivo que me trouxe foi para contar-lhe sobre uma estrela. Uma estrela cadente que vi há cerca de um ano enquanto cruzava o céu do meu país, a trabalho. E foi assim, em uma noite improvável, no retorno para casa enquanto meus pensamentos voavam mais rápido que o próprio avião... Na época eu pensava sobre a vida e tentava, forçadamente, identificar as estrelas que eu contemplava da janela do avião. Vôo demorado naquela madrugada...E foi daí que a vi...Cortou o céu em um risco fantástico. E fiquei pensando: dizem que devemos fazer um pedido a estrela. E eu fiz.
O meu lado poético sempre imagina mil coisas ao observar os fragmentos celestes que cortam o céu a noite. Fico fantasiando mundos, sonhando coisas desarrazoadas diante do intelecto, mas que fazem muito bem a alma. Já pensou se as estrelas cadentes representassem efetivamente um sinal, uma possibilidade de concretizar desejos, de realizar os anseios que enleiam a alma...? Que bom se a estrela cadente não fosse apenas o detrito de algo que se partiu...de algo que se separou e que ao adentrar em nossa atmosfera, acaba por incendiar-se...que bom se estes fragmentos pudessem igualmente ser estrelas, amuletos mágicos que representassem uma nova etapa...
Sei o que dirás: "de novo a fantasiar"...E o que posso dizer-lhe é que não importa, para mim, o que objetivamente representam do ponto de vista científico...agarro-me ao que a poesia diz, ao que a alma convida a pensar, o que o coração sente... E foi assim, que na batalha entre a fantasia e a realidade, desejei que o fragmento incandescente iluminasse os caminhos de todos que conseguissem visualizá-lo em em seu rastro de luz...E perguntarás: " o que seu coração fantasioso e sonhador desejou?"
Bom, eu teria que informá-lo que não podemos publicizar os desejos de uma forma tão aberta...alguns precisam dormitar no fio das horas, precisam estar agasalhados no coração e adubados com a esperança e a paciência incansável de quem objetiva uma meta...Mas, acredito que eu possa revelar-lhe apenas uma parte, tanto quanto o pedaço do astro que se desprendeu e encantou o meu olhar...
O que desejei? Desejei caminhos mais calmos, braços aconchegantes que me envolvessem com carinho e uma voz que me dissesse de mansinho o tanto de carinho que por mim sente...Desejei um oásis no meio da batalha, mãos que junto das minhas pudessem traçar um mapa de lugares por visitar...sonhei um sorriso iluminado pelo olhar que me vê, passos que encontrassem os meus e um coração disposto a amar sem medo... E com certeza você me dirá:"sonhos ambiciosos...sonhos impossíveis...fraquezas de um coração solitário..." E eu terei que lhe dizer que não. São desejos, tênues como o vento que sopra, frágeis como os rebentos que brotam da árvore no começo da primavera...mas possíveis, sensíveis...e que nascem da saudade incontida de uma alma que procura outra alma...E algo em mim afirma que um dia...quem sabe, isto seja possível... quando for possível nos desarmarmos de nossos medos infundados, das amarras que nos prendem a pessoas que não sabem o que por nós sentem..quando nos livrarmos de relacionamentos vazios de sentido, de sentimento e de comunhão... Porque a maior dor, não é caminhar sozinho, mas sim estar ao lado de alguém que apenas deixa conosco o corpo e não nos permite entrar no coração...
Então, meu querido, prefiro pensar que os fragmentos que cortam o céu noturno sejam estrelas a iluminar nossos sonhos...e não apenas os pedaços de um coração partido fruto de um relacionamento errático...Prefiro pensar que as imagens incandescentes que observamos atravessando o espaço, representem a parte que ao decidir desgarrar-se, encontrou uma nova oportunidade para amar... E me dirás: "como é romântica essa minha amiga"! Apenas te direi: com certeza! E com certeza, depois disso iríamos sorrir...mas, igualmente afirmo, que independente de tudo que nos aconteça ao longo das horas que nos torna mais velhos e quem sabe, mais sábios...o único desejo que não muda é a de que a sua felicidade seja uma constante em sua existência...e o sentimento que permanece, é o meu amor por você...Eterno, como os sonhos que gravitam ao alvorecer...
Até breve...
Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 12/09/2014
Alterado em 12/09/2014