Textos

Sobre o suicídio...
Querido Amigo,
Com está? O quanto os seus olhos tem contemplado o mesmo horizonte que nos irmana nesta vida? Quantos poentes você já registrou em seu olhar e diante dele pensou na vida, no dia que finda? Gostaria muito de poder estar mais próxima da sua vida, do seu dia a dia atribulado...Contudo, percebo que um mundo de coisas nos separam e não creio que possamos nos encontrar tão brevemente quanto deseja o nosso coração.
   E daí você me perguntará: como está? E te direi sem meias palavras que ainda me recupero de um resfriado...que ainda me recupero diante das incertezas trazidas pela vida...e que ao mesmo tempo não consigo parar de pensar em temas que o dia a dia me traz... Um desses temas veio no começo da semana com a notícia do suicídio de uma figura pública, de um ator cujos filmes levavam esperança, despertavam sorrisos e em cujo olhar havia uma mística curiosidade...Jamais imaginei, que por trás dos personagens havia uma vida atribulada por drogas, por tristezas inomináveis. Como ele sabia disfarçar a dor. Como ele sabia, com seus personagens, colorir com doçura e poesia a tristeza que lhe corria na alma. E é inevitável não pensar, quantos de nós não escondemos atrás das máscaras, a dificuldade de estar em um mundo nem sempre justo, onde a vida parece valer tão pouco.
    E esse suicídio me trouxe na memória os suicídios ocultos que praticamos todos os dias. E você me perguntará: como assim? Então te direi das tantas vezes que atravessamos as ruas sem olhar para os lados, os tantos momentos em que consumimos algo que pode destruir nosso corpo, dos muitos instantes em que nos envolvemos com coisas e pessoas que igualmente matam pouco a pouco em nós a esperança e a vontade de viver e as inúmeras vezes em que nos envolvemos com situações destrutivas. E daí me pergunto: o quanto vale a vida? E o quanto algumas pessoas, já debilitadas nos hospitais olham para o céu implorando uma chance a mais para viver, para usufruir do afeto dos quem amam...E o quanto, alguns de nós, sem uma aparente doença física destroem o corpo por algo que não conseguem enfrentar ou conviver...
     Você com certeza me dirá que não há apenas doenças físicas, mas sim de que a mente é o nosso maior menestrel. Lhe direi que concordo e isso aumenta ainda mais a minha inquietação. Mente e corpo tão juntos, unidos, inseparáveis e como um afeta o outro a tal ponto de na confusão dar cabo da própria vida física. Lembro-me sempre de um professor que me dizia: "não devemos perguntar por quem você morreria. Devemos perguntar por quem você viveria". Porque morrer em si em nada ajudaria o outro. Porque morrer é imensamente mais fácil do que viver!
      Há alguns anos atrás, poucos é verdade...perdi uma amiga por suicídio. Lembro-me do sorriso e do som da gargalhada que dava diante de algo que a divertia. Lembro-me da inteligência e da coragem com a qual ela enfrentava a vida e de repente, soube da sua morte. Uma morte provocada, planejada no turbilhão de uma depressão e do quanto procuro conviver com o vazio que essa ausência me deixou. E ao me dar conta desta ausência, me pego a pensar sobre os motivos que a levaram a cometer ato tão desesperador. Porque só um desespero aterrador pode ter provocado uma situação como essa. E fico imaginando a família, o marido, as filhas...e aí não sei o quanto este ato é corajoso ou de extrema covardia...porque nos deixa reféns de perguntas que jamais serão respondidas pelo que se foi...E ter perguntas e apenas o silêncio como resposta é doloroso demais. Saber da carreira promissora, da inteligência desperdiçada ao sabor de um ato que colocou a todos em um vácuo sem entendimento...
    Seria possível tê-la salvo de si mesma? Seria possível prever um ato que nos cala pelo inusitado? Seria possível ter dito o quanto ela era especial para mim, para a família, para os que a cercavam? Ah, se fosse possível voltar no tempo! Mas o tempo não volta, não retrocede ao ponto de podermos dizer aos que amamos o quanto são importantes em nossas vidas...
    Lamento estar tocando em um assunto tão funesto, tão entristecedor porque desafia até mesmo o que acreditamos como espiritualidade. Se cometemos dia a dia pequenos suicídios...O que temos a dizer ao outro? O que temos a dizer a nós mesmos? Eu nem sempre tenho palavras, mas se fosse possível eu diria que a vida é um dom precioso. E que viver representa um desafio muito maior que a morte! Viver representa a oportunidade de praticarmos os ensinamentos que nos guiam a alma. Não é fácil conviver e enfrentar os tantos acertos e desacertos que cometemos na caminhada. Preservar um corpo, cuidar da alma, estabelecer laços, construir pontes...sozinhos ou acompanhados a vida abriga em si responsabilidades, compromissos, fardos às vezes pesados para carregar...mas também traz belezas, alegrias, felicidades, mesmo que etéreas...A vida abriga nas horas possibilidades, nem sempre previstas, mas presentes e desistir delas significa negar a sua própria condição de aprendiz diante da existência.
     Por isso querido amigo, quando as dificuldades da vida aportam no cais é preciso respirar fundo, buscar em si a força necessária diante das adversidades e não negar a própria capacidade em superar...em buscar a luz que jaz no reduto da escuridão, a enxergar o sol que existe além das nuvens da chuva...ir além do vento que sopra com intensidade e que parece querer nos arrastar...É preciso buscar forças para reconhecer caminhos mais iluminados e que podem estar ao alcance de nossos passos...
     Como vê, o quanto uma notícia sobre alguém que jamais conheci pode me trazer de volta amigos queridos que perdi...E dessas inquietações o que me resta é reafirmar que não podemos perder a oportunidade de dizermos às pessoas que amamos o quanto elas são importantes para nosso viver...e que por você e por elas seria possível  viver...
    Então é isso, hoje e sempre...continuo amando você...E por você e por mim eu viveria...eternamente!!

Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 13/08/2014
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