Textos

O começo, o meio e o fim...
Querido Amigo,
Como tem sido os dias em que não estive presente em sua memória? Talvez você igualmente se pergunte por onde andei nestes últimos tempos. Distante, reticente? Não. Ocupada. Ocupada com o tempo, com o movimento que a vida me traz, com os solavancos que ela me impõe, com as turbulências inesperadas, com encontros e desencontros estranhos e às vezes, bizarros. Mas continuo aqui. A minha essência não se perde ao vento, não se destrói em meio aos cataclismos que vez ou outra me afligem.
   E você poderá dizer-me que ainda falo sobre tudo e não lhe conto nada. Ah! A vida  é tão cheia de detalhes que há coisas que não merecem ser ditas, e mais que isso, não merecem serem relembradas. O importante são as lições que ela nos dá, o que os eventos que nos acontecem nos inspiram e nos ensinam, já lhe disse isso outras vezes...
   E ontem eu cismava com algo. Com certeza você já sabe que  há dias em que o meu olhar se perde diante de uma paisagem, que meu espírito vai de sobrevoo para terras longínquas e ontem foi um dia destes. Fique a cismar de como algumas histórias, que com a nossa se cruzam, terminam tão tristemente. Como assim, você me perguntará?
    Vou ver se consigo explicar-me. Todo relacionamento começa com grandes possibilidades. Sejam estes entre amigos, como  entre namorados. São, em seu início, na grande maioria, plenos em intensidade e todos bebem em uma fonte de inesgotável afeto...Em especial nos relacionamentos entre enamorados, o viço, a procura, o afeto são mais vulneráveis aos abalos que se encontram escondidos nas horas...e então, aquilo que coloria o dia passa apenas a despertar certa monotonia, e o que inebriava o espírito e despertava o desejo se vê sufocado pela rotina, pelos estereótipos que cria-se um do outro e o que era belo, torna-se um fardo para ambos...Até que a história por si se desintegra e cada um segue seu rumo. Este último desfecho é obtido após muito sofrimento entre o desejado, o idealizado e a frustração que se segue diante da realidade.
  Com certeza, você deverá estar a pensar: "quem me frustrou recentemente"...E eu serei obrigada a dizer que a palavra "frustração" traz consigo sempre a noção de uma expectativa não atendida e que não corresponde ao idealizado. Confesso a você que às vezes me assusto, porque há muito tempo eu acredito que ninguém vai corresponder a qualquer expectativa que eu possa ter. Parto do princípio que todos podem agir de acordo com a música que toca dentro de si e isso necessariamente não inclui o mesmo compasso que o meu. Igualmente digo, que a música que me move, não corresponde ao mesmo gênero e ritmo do seu. Então, com certeza, se atribuirmos a cada um de nós expectativas mil diante de nossos desejos, corremos um sério risco de nos frustramos. E daí, como se vive sem expectativas diante do outro? Não saberei te responder com clareza, mas lhe digo que  há algo que permeia esta mútua convivência sem idealizações fantasmagóricas e passa pela seguinte condição: "escute a si mesmo, escute o que o outro diz, olhe a si mesmo e observe o outro...E passo a passo caminhe com o outro sabendo que são diferentes, que serão diferentes, mas que há a possibilidade de estarem juntos, mesmo escolhendo rumos diversos. Portanto, valorize o momento do encontro, saboreie o instante de intimidade, de proximidade e usufrua do aconchego, da atenção e do carinho enquanto ele está acontecendo  e...principalmente, não tenha medo de que isso não se repita mais e que os caminhos se separem...a vida traz, a vida leva..." E mais que isso, o que une as pessoas chama-se: sentimento, afeto...e se esse não mais existir, deixa ir, deixa passar e segue...porque não vale a pena estar obrigado a ficar com alguém que não mais nos aquece a alma.
   Contudo, ainda penso que nestas separações precisaríamos não nos tornar inimigos de quem um dia, supostamente, amamos... A raiva, o ódio, a frustração igualmente nos amarra ao outro e sempre por um lado que muito pouco constrói. E é era sobre finais assim que eu cismava ontem ao cair da tarde. Toda e qualquer separação é em si dolorosa. Pelo bem ou pelo mal, conviver com a distância, com a não realização do que se sonhou já envolve um sofrimento, que fica pior quando a mágoa se instala e toma conta da nossa alma sentimentos como os de vingança, e de um tamanho desamor que acaba contaminando existências inteiras. E então você dirá que virei santa, pregando o perdão  e o esquecimento!
   Não sei ao certo se é em perdão o que estou falando, mas sei que há uma razão muito apropriada para este termo estar nos meandros de nossa consciência. Com certeza, sem um e sem outro, estaremos algemados a quem nos fez sofrer, ou a quem fizemos sofrer...E nada pior do que isso para nos impedir de saborear os outros encontros, tanto consigo mesmo quanto com os que encontrarmos. Porque, quem magoou será alvo da ira e do ódio de quem foi magoado e isso atrapalha e, quem foi magoado, estará marcado de tal forma que não conseguirá soltar-se e se oportunizar a ser feliz...E com certeza, isso é muito cruel...E ao final dessa equação matemática de desafeto e desamor, o que resultará? Dor, sofrimento, tristeza e solidão...E eu penso que a vida traz consigo muitas oportunidades...e ficar mergulhado nos sentimentos sombrios do desamor não é uma opção saudável para o tanto de anos que ainda temos para viver...E se outras vidas tivermos...quanto peso levaremos na bagagem? Então, aliviemos o peso e caminhemos, porque ainda há muito por viver, mil pessoas a conhecer e um universo inteiro para aprender. E se o universo é grande demais, comece por si mesmo...já será um grande passo...Então é isso...mas ainda lhe digo que o que ainda não mudou é o sentimento que sinto por você. Este, em essência, é o que de mais belo tenho a oferecer.
Um saudoso abraço de quem ainda ama você!

Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 11/04/2014
Alterado em 22/05/2014
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