Acaso, coincidências...surpresas no viver
Querido Amigo,
É Carnaval e o país se movimenta e se sacode ao som da bateria, no diapasão da chuva que igualmente ensopa a alma dos foliões. Fico a pensar se alguma vez houve um Carnaval sem chuvas. Parece uma conspiração do universo a insistente chuva que cai no país quase inteiro.
Neste Carnaval fiquei em casa, mergulhada entre travesseiros, pensamentos e na companhia de uma surpresa trazida pela vida, pelo destino. Inegavelmente a vida traz consigo o inusitado e novamente retomo a crença de que ela nos dá aquilo que precisamos. Você pode estar a perguntar-se a que me refiro. Penso sobre o que chamamos de destino, ou o que seja essa linha tênue que nos liga às pessoas e que igualmente nos separa delas. Fico pensando acerca do movimento que consolida relações entre pessoas que se viram por um tempo breve, que moram a quilômetros de distância um do outro e que mantém aceso a esperança de um novo encontro, que cultivam o carinho e a proximidade mesmo distantes geograficamente. Isto me encanta. Isto me surpreende o espírito, principalmente quando penso que toda e qualquer atitude que tomamos, por mais simples ou tola tem uma repercussão surpreendente.
Permita que lhe pergunte: você já pensou o que teria acontecido se ao invés da direita, você seguisse o caminho da esquerda? Se ao invés de tomar um táxi, tomasse um ônibus para te levar a seu destino? Qual o significado do avião que atrasa, das mudanças de horários inesperadas? Haverá uma razão para aparentes desacertos e mudanças de planos e rumos? Com certeza você deve estar curioso para saber o motivo de tantos questionamentos.
Bom, então vou lhe contar o que soube recentemente e novamente me leva para a direção em afirmar que o acaso, é uma quimera e que inegavelmente procede a afirmação de que para tudo há um sentido, há uma razão na aparente confusão do momento. Uma amiga, conhecida de anos, contou-me que saíra de casa mais cedo em uma de suas manhãs rotineiras. Pegara o primeiro ônibus que vira e nele conheceu um homem que recém chegava à cidade. Inicialmente, mais um transeunte da cidade turística onde morava. Contudo, próximo a chegada do destino o desconhecido começou a conversar com ela pedindo informações acerca do novo trajeto que faria. Ela, solidária, prestou as informações e indicou o caminho ao final do trajeto. Entretanto, ele pareceu não entender as informações e seguia para o caminho contrário. Ela, retornou até ele e o levou até o lugar que pretendia ficar. Ele viajaria para uma outra cidade de ônibus, e o seu destino era a rodoviária. Trocaram algumas palavras sobre a cidade, apresentaram-se e depois cada um seguiu seu rumo... Contudo, setenta e duas horas depois voltaram a se encontrar por uma estranha coincidência. Ela o havia achado simpático, amistoso e gentil e enviou um convite para fazer parte de uma rede de amigos virtuais. Ele aceitou e mais que isso, como havia voltado a cidade, propôs um novo encontro...E deste encontro resultou um laço que não se desfez mesmo com o retorno dele para o local de origem...
Com certeza você me dirá que tudo não passou de uma fortuita coincidência. Por certo que a coincidência tem um significado ampliado quando pensamos na repercussão que ela nos traz. O homem chegara atrasado na cidade, o avião que o trouxera chegaria horas mais cedo do que o momento em que a mulher entrou no ônibus. Ao chegar, ele tomaria um táxi, mas não havia um disponível no horário em que chegara e ao perceber um funcionário do aeroporto perguntou como faria para chegar a rodoviária e este indicou o primeiro ônibus que aparecera. Ela, saiu antes do horário habitual e pegou o primeiro ônibus que vira. Ele, viajou para uma outra cidade após o primeiro encontro e ela não sabia que ele voltaria horas depois. Ela, ao mandar o convite de amizade o julgava distante e nem sequer sabia se ele responderia positivamente e mesmo que o fizesse jamais imaginou que ele havia retornado e que ia querer vê-la novamente...Enfim, aparentes coincidências parecem ter um sentido mais profundo, já dizia a música. Você por certo deve estar imaginando que estou a divagar...
Digo-lhe que não. Estou a pensar acerca deste movimento da vida que nos faz viver situações, por vezes inesperadas, despertando nossa alma para sentimentos adormecidos...Encontros que nos fazem reviver, revitalizando a esperança contida dentro de si...que despertam o corpo, a alma...que nos fazem rever as atitudes, que nos fazem buscar outros horizontes, que nos levam a acreditar em razões para voltar a viver...
É sobre isso o que escrevo, sobre a possibilidade de termos novos horizontes a partir da disposição interna em buscar outros caminhos, em experimentar e abrir-se para a possibilidade do novo, da vida que brota em cada canto e da esperança que nos alcança quando, aparentemente já não temos forças para prosseguir. E tudo isso, me faz ver que ainda há uma oportunidade para a felicidade que se esconde no fio das horas...
Desejando que estejas bem, me despeço...
Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 04/03/2014
Alterado em 05/03/2014