Textos

O jeito de amar...
Olá Querido Amigo,
       Vinha caminhando agora a pouco pelo trajeto que me leva até o trabalho e, sinceramente, pensei em você e do quanto hoje eu desejei ser acalentada em seus braços para poder descansar o corpo e a alma. Queria apenas um gostoso abraço no reconfortante instante em que mais preciso. Pois é, às vezes fico assim...Na verdade, o que me inquietou o dia inteiro, desde a manhã, foi uma conversa com uma grande amiga, ontem a noite.
      Conversávamos sobre o amor, o desejo de amar, os sonhos naufragados diante das tempestades da vida, as tentativas em vão frustradas pelo tempo, pela distância entre os corações pretendidos e desejados. Em minha leitura, um pouco incipiente da alma humana, senti nela a dificuldade em querer abrir-se para a esperança de um novo sentimento, de uma nova oportunidade para amar. Com certeza a compreendo muito bem e imagino o quanto é difícil superar as dificuldades emocionais neste campo. Mas fico a pensar: será que os grandes equívocos estão centrados na forma, no jeito de amar? Será que as grandes dificuldades estão na intensidade do afeto que se dedica a alguém e nas expectativas que se coloca sobre o outro, sobre a relação?
       Confesso-me extremamente inábil para alinhavar uma resposta e identificar onde reside o maior problema. Minha amiga é intensa...e quando se apaixona e ama, se entrega em um enovelado de sentimentos que pode assustar, sufocar o outro. Será? Ponderamos este aspecto enquanto degustávamos o jantar e a resposta gerou outras perguntas: é possível amar pela metade, com dosímetro para se saber a intensidade? É possível amar o outro com o freio de mão puxado, cerceando ações que viriam espontâneas em condições diferentes? Ou será que o outro se sente sufocado porque justamente não ama, está parcialmente envolvido ou tem medo de envolver-se? Chegamos juntas a conclusão de que jamais saberemos a resposta, porque isso dependeria de uma manifestação do outro e, isto o tempo já informou que não será possível obter.
       Pelo sim e pelo não, a decisão foi: não se envolver para se proteger de mágoas e novas frustrações...Contudo, fico a pensar se isso é possível. Com certeza não mandamos em nossos corações e ele nem sempre tem um censor calibrado e eficiente para esquivar-se das peripécias do afeto e das trapalhadas do amor...Talvez por isso o Cupido, seja representado por uma figura travessa de criança que sai a disparar flechas a esmo...e daí vem toda a confusão. Talvez devêssemos ter um escudo protetor diante das situações bizarras que o Cupido nos proporciona. Por certo, devemos preservar duas questões essenciais em um relacionamento:a individualidade de ambos e a sinceridade nas atitudes de um para com o outro. Talvez isto evite duas situações: invasão desorientada na vida do outro e a capacidade de saber até quando estamos sendo efetivamente desejados um na vida do outro. Igualmente constato, que não há uma fórmula mágica que garanta que vai dar certo. O que deu certo em um relacionamento, pode não dar certo em outro e vice versa...porque as pessoas são diferentes, reagem diferentemente a cada novo período do viver. Confesso que mergulhar na casca de uma ostra não vai resolver muito a situação, mas também sair espalhando a tinta de um polvo, também não...
       Às vezes sinto que a alma humana é tão estranha e surpreendente que é difícil estabelecer um padrão. É necessário preserva-se de ilusões e oásis transitórios para não se ferir sem necessidade...mas também é importante oportunizar-se a conhecer as pessoas e com algumas, se envolver...e experimentar. Lembro-me de uma amiga, que ao fazer uma pós-graduação de quatro anos de duração, constatou o número de amigas que se separaram dos companheiros neste período. Então, ela repetia para si mesma que ela não sacrificaria a família em detrimento do curso que fazia. Ela acreditava no relacionamento que tinha com o esposo. E daí estabeleceu uma estratégia, acordava nas madrugadas para estudar, lia os textos na banheira de hidromassagem, no beliche na casa de praia... Enquanto ele dormia, ela pensava. Quando ele acordava, a vida familiar seguia como sempre em sua rotina de atenção, de cuidados para com a casa, o esposo. Para ela, aquilo era  importante: família, sentimentos, afeto...A Pós-graduação terminou e ela havia conseguido o intento: não sacrificara o relacionamento afetivo e familiar. Só que por ironia do destino, ao fim do curso, ela fez a descoberta de que o esposo a traía...e daí? Aí o casamento acabou e tempos depois cada um seguiu seu rumo...
       Como podes perceber caro amigo, não há uma fórmula secreta e infalível...Há pessoas em relação, vivendo suas vidas do jeito que imaginam ser melhor...Alguns se importam com outros...e outros não se importam tanto assim...O grande diferencial é o que temos dentro de nós e o quanto somos fiéis a nós mesmos, o quanto amamos a nós mesmos antes de amarmos o outro... Por isso que um dos conselhos que Jesus Cristo nos ensinou foi o de "amar o próximo como a si mesmo". Imagino que ele estivesse querendo dizer que para amar o outro, precisamos amar a si mesmo, primeiro. Esta é uma lição difícil, porque é mais fácil colocarmos a expectativa sobre o outro e daí, com certeza, colocaremos também o peso dos desacertos nele também. E pior do que isso, estaremos autorizando o outro a nos fazer felizes, quando na verdade, a responsabilidade pela nossa própria felicidade pertence a nós mesmos...
        Então, meu grande amigo, é impossível que o outro nos faça felizes...podemos ser felizes juntos, unindo as felicidades sem as vagas expectativas de que alguém externo fará isso. Agora já é entardecer e preciso retomar o caminho para casa. Espero que ao anoitecer, a lua e as estrelas sejam tão companheiras quanto ontem, quando observaram meu olhar encantado ao vê-las. Gostaria que elas pudessem iluminar o seu coração e o seu olhar, tanto quanto o da minha amiga. Para quê? Para que ambos possam encontrar a esperança, alegria na simplicidade do que a vida encerra e nos traz...Para que complicar? Esta sempre é a sua grande pergunta e que virou, nos últimos tempos, o meu grande refrão...Descompliquemos a vida e vivamos um dia de cada vez, com toda a intensidade que ele nos traz. Obrigada pelas grandes lições que ensinaste e uma vez mais te repito: você enriquece e aquece a minha imaginação e o meu coração...
      Com amor...

        
Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 12/02/2014
Alterado em 13/02/2014
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