Textos

Sobre o amor e outras coisas...
Olá meu Querido,
      Estranhei o seu sumiço nos últimos dias... Fiquei apreensiva por algum motivo ignorado. Daí consolei a mim mesma com a velha afirmativa de que "notícias ruins correm rápido". Perdoe-me a preocupação desnecessária, mas é que no mundo de hoje presenciamos tantas situações que fogem da nossa governabilidade, que mal consigo respirar. Seria melhor não pensar nas inúmeras mazelas às quais estamos sujeitos. Acredito que você estivesse muito ocupado e que no lugar onde estava, o acesso aos inúmeros meios de comunicação eram raros ou inexistentes. Melhor pensar isso, do que imaginar você sendo vítima de coisas ruins.
       O motivo de minha carta hoje, não é apenas para desanuviar a alma por te saber em segurança, é simplesmente para compartilhar um pensamento que me levou longe...para a terra das intermináveis reflexões. E você poderá me perguntar: o que me inquietou tanto nesta tarde quente de verão?
       Respondo a você: pensava sobre o amor...Como assim? Imagino a sua pergunta e o franzir da sobrancelha como a dizer-me: Lá vem ela de novo? Pois é, é inevitável não pensar em temas como esse. Afinal, todos pensamos alguma coisa sobre ele. Na verdade o que motivou a inquietação foi a expressão usada por uma amiga. Ela confessou para mim que queria "viver um grande amor". Até aí, sem problemas. Esta é uma expressão comum para a maioria das pessoas que sentem que não viveram a grandiosidade de um sentimento. Compartilhei com ela desse desejo, tão próprio das mulheres e homens românticos que desejam viver em plenitude um amor...o amor... Só que fiquei a pensar: o amor pode ser medido em quantidade, dimensão ou amplitude?
        Já ouvi de um poeta e até mesmo de você, que, "amar é um verbo intransitivo". E o que é um verbo intransitivo? E você disse..."simplesmente se ama". Isto quer dizer que verbos intransitivos não necessitam de complementos, ou seja, possuem um sentido completo, pleno. É...amar é assim...mas e o amor enquanto um substantivo que evoca o sentimento de amar?
       Pura loucura, você poderá dizer-me! Pode ser, mas volto ao meu questionamento: o amor pode ser mensurado, medido em dimensão, quantidade? O que significa "um grande amor"? Aí, em meus devaneios fiquei conversando comigo mesma e constatei que a resposta a esta pergunta é apenas uma: Não. O amor não pode ser medido em qualquer sentido ou dimensão, o amor não pode ser quantificado. Então, talvez precisemos rever a expressão sobre "viver um grande amor". E depois de fazer mil elucubrações acho que encontrei uma resposta.
      O amor não pode ser medido em quantidade e em extensão. Ele só pode ser avaliado na grandiosidade de seu existir, na intensidade do que evoca no ser amado e naquele que ama. Acredito que o amor é constituído de inúmeras facetas que pode ser vivido em diversas dimensões...e talvez estas sejam as manifestações deste sentimento que retroalimenta a alma dos amigos que amamos, dos familiares em cujo aconchego encontramos sintonia ou nos braços dos amantes. As faces do amor, sua maneira de manifestar-se é o que talvez, mais me surpreenda. Principalmente, quando se trata do amor entre duas pessoas que supostamente se procuravam na imensidão desse universo.
       Em todas as suas formas, o amor surpreende, enreda, destrói a tristeza, leva embora a solidão, faz sorrir um coração...Mas como reconhecer o amor? Como é possível saber-se amado? Como é possível se fazer amar?? Ah, para essas perguntas não tenho respostas. Talvez apenas para a primeira eu tenha uma vaga suposição... Acredito que o amor pode ser reconhecido muito mais nos pequenos detalhes no que nos grandiosos feitos. Como assim? é o seguinte: se o amor é trançado em pequenos detalhes, então é necessário ficar atento ao grau de importância que você dá e recebe do outro...É importante sintonizar-se com o que é dito e o que fica escondido entre a fala e as ações...Alguns amam escondido, com medo de serem rejeitados ou mesmo, porque não conseguem extravasar o que lhes vai na alma... E aí você dirá: precisa-se ser paranormal e adivinhar pensamentos? Não propriamente, mas acredito que deve haver uma coerência entre palavras, olhares, atitudes entre os que amam e são amados. É impossível não haver...
      Igualmente penso, que o amor não entra no coração de quem não o deseja. Jamais conseguiremos obrigar o outro a nos amar e muito menos, conseguiremos amar alguém, apenas pelo desejo que o outro tem...Daí aquela vaga sensação, de que o amor acontece...explode na nossa vida, quase como uma supernova e por aí vai distribuindo fragmentos. E o grande descompasso nessa vida, é amarmos quem não nos ama e sermos amados, por quem não desejamos. Confusão! Uma confusão atribuída ao Cupido, mas não o considero tão culpado assim...Sei que podemos fazer opções...e nem sempre estas estão imersas na grandiosidade do amor e por, alimentarmos outros sentimentos por quem nos cerca, acabamos presos em uma rede de grande confusão e assim, ficamos mais distantes do amor e do verbo amar.
       A mágica seria encontrar a sintonia, seja no amor amigo, no amor irmão, no amor entre amantes...E esta sintonia é rara, preciosa e que quando encontrada deve ser regada, adubada, aconchegada e recheada com a sinceridade entre os corações. Afinal, dizem, o amor é uma planta! Uma planta que se implanta em nosso ser e que, se não for bem cuidada, ou morre ou nos mata e nos impede de amar novamente...Então, daí a importância de cuidar muito bem deste terreno, para que as sementes do amor possam ser adequadamente cuidadas e florescer. Curiosa a analogia, mas é verdade. E há amores de tantas formas e formatos que uma página seria pouco para descrever.
      Uma vez, certa amiga, confidenciou-me que amava muito um rapaz que não a amava. A maioria a criticava por amar alguém que já tinha outro alguém. E ela, não se lamentava...Estava tão preenchida por aquele sentimento que quando alguém tomava suas dores e criticava o rapaz, ela apenas dizia: Ele não tem culpa de ser amado! E por anos, ela guardou aquele sentimento, até que um dia, eles se reencontraram no tempo de cada um. E o carinho, o afeto permaneciam lá...Ela ainda o amava, só que a tonalidade deste amor tinha mudado. Ele transformou-se em uma grande e maravilhosa amizade. O que começara como uma paixão, que se transformara no amor entre um homem e uma mulher, modificou-se para um amor tingido pela beleza de uma amizade sem igual. E hoje, conversam, trocam, avaliam o passado e ele esclarece que nunca a esqueceu...E se ele nunca a esqueceu, a semente desse amor amigo havia sido plantada e foi adubado pelas lembranças, pelo carinho que um dia os uniu e pela vida, que novamente os reuniu.
       É isso, meu querido amigo...que você possa usufruir na noite estrelada, a sintonia deste sentimento que nos une...hoje e sempre!
      Com amor!!!!
      
Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 29/01/2014
Alterado em 30/01/2014
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