Textos

Carta sobre o fim de semana...
Olá Querido,
     Por onde andas? Tenho sentido muito a sua ausência, em especial neste último fim de semana. Final de semana estranho...Atípico diria eu, diante do tempo que fez fora e dentro de mim. Choveu, choveu muito. O sol resolveu esconder-se no horizonte e trouxe consigo as nuvens de chuva, o vento frio e com ele a introspecção. Calei. Fechei as portas e janelas e aquietei-me a ouvir músicas, a ver fotos na internet, a corrigir trabalhos atrasados, a pensar na vida...
      Esperava por um outro amigo querido neste fim de semana. Talvez isto, além da chuva, tenha proporcionado a sensação de imobilidade e de tédio que resultou nesta segunda feira amarrada que vivo. Você me perguntará: como assim? Então, permita-me que lhe explique. Tenho um amigo fantástico, uma pessoa maravilhosa que sempre e sempre, me apoia, me incentiva, me abraça e me aquece a alma com tantas demonstrações de afeto. E este amigo visitou a cidade este fim de semana. Uma viagem programada por ele, esperada por mim...Eu precisava ouvir a voz trovejante, o jeito maroto com o qual me faz sorrir diante das minhas perenes encucações...Eu precisava da leveza daquele olhar... Eu precisava reciclar as minhas energias consumidas em lembrar de você. Só que meu amigo teve intercorrências que o distanciaram da minha casa, do meu olhar...E como eu fiquei a esperá-lo, acabei não fazendo nada.
       Quando um amigo, muito querido, diz que vai a sua casa, o que você faz? Você espera, prepara a casa, organiza a agenda para dar espaço para que ele possa usufruir da sua companhia e você a dele. Principalmente quando este amigo não mora na mesma cidade que você. E foi isso que eu fiz, reorganizei atividades, arrumei a casa...mas ele não pode vir. Desculpou-se, fez contato...e eu entendi os problemas vividos por ele...Só que isso me deu a sensação de ter ficado presa em mim mesma, influenciada pela chuva, pelo céu nublado e pelas insistentes saudades de você. Cada vez mais constato: sou uma pessoa voltada para o sol, para o dia, para o calor, para o céu azul...O tempo nublado, a chuva quando persistente, o vento frio me leva por ares e mares de uma outra energia...parece que retorno para a concha como uma ostra. Se por um lado isso freia as minhas múltiplas atividades, por outro lado traz consigo uma sensação estranha...Não se apresse a dizer que é depressão, solidão...São só momentos sazonais, intempéries de existir.
        Então, a manhã me acordou ainda sonolenta, agitada, presa em algum lugar angustiado, mas que agora, ao entardecer começa a passar.  E não lhe sei informar de forma mais apropriada os motivos para tanto devaneio. Mas, houve algo imensamente positivo nesta estranha vivência: o meu piano. E você poderá perguntar-se: que piano?
        Lembro-me de ter dito a você sobre o piano. E ele estava ali, mudo há anos...Resolvi dedilhá-lo, rever partituras aprendidas em um outro momento da minha vida. E reconheço que ele e eu, neste reencontro estávamos enferrujados...Demorou um pouco para que a fluidez do dedilhar ficasse impregnado das emoções que tinha ao tocar as músicas que amava. E lhe digo: como amo a música. Teria sido uma pianista, se oportunidade tivesse. Mas o piano, quando veio, me pegou em um outro momento da existência. Eu estava tocando uma outra música, compondo uma outra sinfonia e dedicar-me a ele já não cabia. Mesmo assim, investi no sonho de menina. Aprendi a ler partitura, a dedilhar com relativa facilidade, mas com pouca desenvoltura...Mesmo de forma incipiente, o piano faz parte de mim e, quando eu olho para ele, tranquilo na mudez imposta por mim, sei que posso tocá-lo e deixar que minha alma navegue em outros mares, outros lugares, em uma outra sintonia além do tempo e do lugar onde estou.
       Enfim, querido amigo...esta carta é apenas para colocá-lo a par das bizarras sensações trazidas por um fim de semana atípico e inusitado...mas também para dizer-lhe que as saudades de ti permanecem eternas, perenes e que só diminuem quando contemplo a lua emoldurada pelas estrelas que você tanto ama!
Com amor....
Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 27/01/2014
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários


Imagem de cabeçalho: inoc/flickr