Uma carta de entardecer..
Olá Querido Amigo,
Sabe, hoje não sei ao certo o que escrever para ti...às vezes acho que minha alma sai e fica vagando por tantos lugares que mal consigo contê-la. Mas, igualmente acho, que isto é resultado do muito que tenho a dizer...Você conhece a sensação de estar repleta de palavras e a língua atrapalhar-se ao dizê-las? Pois é isto, o que sinto...
Procuro descobrir novas linguagens, um pouco mais aprimoradas do que as que conhecemos, para ver se consigo me fazer entender e tocar você...mas acho que minhas tentativas são infrutíferas. Não sei ao certo se consegues compreender o que digo e as mensagens que mando, codificadas por um encantamento e que só podem ser compreendidas com o coração.
E ontem, foi um desses dias, em que eu estava grávida de palavras, de sentimentos e te queria por perto. Eu estava só, ouvindo o silêncio da casa. Nem sequer os cachorros brincavam no quintal. Creio que estavam anestesiados pelo calor que fazia. E era um calor dentro e fora de mim que me impedia, de respirar. Foi preciso ventilador, ar condicionado para diminuir o abafamento dentro e fora de mim...E foi aí que resolvi ouvir músicas, experimentei gêneros diferentes, mas inevitavelmente, voltei ao que me falava à alma...Sei que você estava por perto, mas não tive coragem de chamar-te. Afinal, você anda tão ocupado com sua própria vida, que não queria sobrecarregá-lo com a minha. Daí fiquei levitando entre uma música e outra, querendo imensamente que eu pudesse ter um espaço na sua agenda atribulada...Acalme-se, não me lamento por estar à parte e fora do seu contexto...mas é que às vezes gostaria de conversar com você, trocar ideias e ficar imaginando o seu jeito de franzir a sobrancelha quando acha algo esquisito, e observar o olhar que dá quando não acredita no que te dizem...
E sabe, acho que definitivamente você não acredita no que penso e no que sinto...e deve se surpreender quando apareço e desapareço e como eu me prendo e depois me solto...Afinal, tudo é muito novo...Nem eu ao certo sei como isso acontece realmente...
E ontem, os trovões soavam ao longe, me lembrando que choveria, e muito... Contudo, por estar tão envolvida com as músicas que me aqueciam a alma, não ouvi a chuva e os trovões apenas soaram em algum lugar longínquo fora de mim. E você sabe, o quanto sou apaixonada pelas chuvas de verão. Embora eu as tema, eu adoro observar a natureza limpando o ar, dessedentando as plantas e agitando as árvores. Raios cruzaram o céu e eu os vi hoje, pela televisão, e fiquei me perguntando: onde eu estava?
Eu sei a resposta, eu estava sintonizada em você, no seu jeito de sorrir tão gostoso de se ver, na sua curiosidade, na sua voz sussurrante e em tudo que você é...A sua imagem, a música distraíram meu pensamento e acho que fiquei fora do ar...e por isso não consegui ver a tempestade e não a temi...Eu estava preenchida com a sua presença sem que você estivesse presente...Você perguntará se isto é possível?
Lhe direi que sim. Aprendi com um filósofo algumas noções e diferenças entre essas duas palavras. Portanto, ontem você era presença na ausência e nem sequer estava presente. Imagina!
Essa ideia me acalenta, na fugidia esperança de que para você eu também possa ser presença na ausência sem estar presente fisicamente. Sabe por que? Porque quando somos presença mesmo estando ausentes, significa que nem tempo, nem lugar restringem a possibilidade de estarmos juntos. E ser presença, significa estar próximo da alma, do coração e isso por si só ajuda muito a diminuir qualquer solidão...
Um carinhoso abraço de verão....
Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 25/01/2014
Alterado em 25/01/2014