Apenas um susto
A janela bateu na casa vizinha e terminei assustando com o barulho. Meus pensamentos vagavam pela terra estranha do passado e do futuro. Terra das lembranças, restos de desejos projetados com a esperança de futuro. Por isso me assustei, ficando assim, meio tonta e recém caída na realidade do cachorro latindo ao longe, dos carros e ônibus trafegando além, e da noite descendo sua vestimenta sobre a terra.
Parece que foi um rápido susto que desencavou as palavras amarradas dentro de mim. Como no suspiro profundo após a queda de um brinquedo que girava no jardim nos tempos da infância. Naquele dia o ar faltou, os pulmões se fecharam, como a janela de agora e experimentei a ânsia de estar perdendo a ligação com os pais e irmãos que choravam ao redor. Contudo, o susto daquela tarde também passou dando vazão às lágrimas impetuosas nos braços da família, que em prantos, agradeciam pelo novo impulso de vida que ganhavam.
Agora as janelas da casa ao lado estão fechadas e seus habitantes, duas criaturas em união, escondem as tristezas de uma espera latente pelo toque do telefone enviando notícias da filha acidentada.
Dentro em pouco serei eu a fechar a minha janela, mas antes, quero olhar para o céu, respirar fundo pelo susto de ontem e de hoje, desejando que os vizinhos também possam respirar com mais fé e esperança depois que o telefone tocar.
Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 22/12/2013
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