Miragem
Parece que há uma longa distância entre a imaginação e a realidade. Do muro do quintal eu avistava ao longe as montanhas e o outro lado da ilha com suas praias. A perspectiva dada pela distância é sempre de algo que apenas se pode ver e de que não é pode tocar. Isto aguça ainda mais a curiosidade de um pobre mortal.
A curiosidade sobre o futuro, o encontro inesperado das pessoas chocando-se nas esquinas de algum lugar. Toda a imaginação porta asas, vasculha horizontes na procura incansável de combustível. No fundo, todos trazem bem dentro de si, o desejo de desvendar os segredos da humanidade e isso inclui pelo menos ver, sentir, tocar os ícones seculares de nossa história como as Pirâmides e daí, absorver a energia que delas emana e finalmente se perguntar sobre o autor de tamanha obra. Percebo que ao olharmos uma gravura ou fotografia parte de nós se desloca no espaço, vivendo, mesmo que por instantes o mundo visto pelos olhos dos fotógrafos, pintores...
Assim estava eu, do muro do quintal conjecturando sobre as montanhas, as gaivotas, os barcos e o mar...O olhar esparramava-se suavemente sobre o azul do céu e, a curiosidade trazida pela distância deu-me o desejo de estar nos pedaços de praia da ilha que avistava em frente. De longe, as casas pareciam pequeninas,enredadas que estavam com seus segredos e mistérios. Nessa perspectiva tive nas mãos um binóculo. Coloquei-me na posição do arqueólogo à procura de segredos da humanidade. Coisas novas ou velhas, tanto fazia naquela tarde, desde que as encontrasse.
A observação fez-se proveitosa, pois do outro lado descortinei casas imponentes, outras humildes de janelas abertas para o mar...ruínas de uma antiga construção fascinaram meu olhar, que mais curiosos tentavam decifrar o significado daqueles restos de um antigo lar onde criaturas deixaram suas marcas nas paredes envelhecidas, nos telhados despedaçados. As ruínas continuavam lá, demarcando as vidas que lhe foram entregues em algum outro tempo.
A visão prosseguia em seu trabalho espalhando-se sobre as pedras distantes. Aos poucos percebi um vulto que me parecia ser uma saia vermelha, com sua dona a divagar sobre a natureza. Ia de um lado a outro na praia e, eu como em uma outra parte do universo a observava. Ela lá, pensando, talvez na solidão que reina nos corações humanos que sempre esquecem do engano natural que é estar só. Não há solidão, porque existem amigos invisíveis a nosso lado, num turno constante, mas que a pressa das ideias relegam ao ditames da imaginação. Pouco a pouco, a moça caminhava como se flutuasse. Aparecia e desaparecia, estranha sensação de ser e não ser.
Subitamente as conjecturas sobre a moça e suas divagações, o sentimento universal que nos unida deram-me um sabor de triste desilusão. A visão de um outro observador mais autêntico, menos sonhador e fantasioso e que estava a meu lado declarou aos ouvidos de toda a natureza que a moça não existia. Jamais chegara a existir, pois se tratava de uma vela em um mastro de windsurf...
Conclusão inesperada para mim, para a moça inexistente e o céu que nos observava. Por instantes, ainda perplexa deparava-me com a assertiva ecoando em meus pensamentos - a moça não existe. Para a realidade daqueles olhos que denunciavam a vela, a prancha e o mastro, talvez não. Contudo, para mim ela estava lá, existindo com sua saia vermelha a flutuar pelas areia daquela praia distante. Talvez fosse a dona das ruínas abandonadas...um espírito que ajudou-me a reafirmar que nessa vida, nunca estamos sós...
Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 14/12/2013