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CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAS...
  “A vida é bela, mas...” Há sempre um “mas” distorcendo nossas frases e criando outras que se opõe, se antepõe. “Gosto de você, mas...” “Seus olhos são belos, você bonita, inteligente, mas...” Quantas vezes, repetido esse “mas” não nos torna pouco objetivos e, às vezes até nos ofende?
Antes do “mas” tudo parece belo e lindo até que esse recurso de linguagem surge do fundo da alma e vomita palavras que nos fazem esquecer o belo, o anteriormente dito. Raramente o vejo sendo usado após uma ressaltava de impropérios para depois reafirmar o belo, como no “mas” subentendido da música do Roberto Carlos: “olha, você tem todas as coisas que um dia eu sonhei pra mim, a cabeça cheia de problemas... mas eu gosto mesmo assim..” Como gosto não se discute, o “mas” sempre nos separa de duas orações diferentes, de duas ideias que jamais se convergem. Essa existência anímica faz parte do nosso dia, faz parte da alma da nossa linguagem.
A mãe quando afirma que o Joãozinho irá ao parque, reafirma com um “mas” convincente que antes terá que limpar o quarto. O Joãozinho tem dez anos, ama o parque e odeia limpar o quarto. Ele já aprendeu que tudo na vida exige uma condição. Lá vem o “mas” e se imiscui na alegria de ir ao parque. Há sempre um “mas” nos términos de namoro. Há sempre um “mas” nas demissões e nas palavras de pais e educadores.
“Olha...a tua redação estava ótima, mas...” Aí aparece a identificação dos erros de linguagem, de ortografia e a redação ainda contínua bela? Será que já não enfeiamos a essência com os dados com o “mas” nos retoma a realidade? Se os erros eram tantos houve a compreensão da essência ou não terá sido uma figura de retórica, de complacência o que se disse na primeira parte da oração? Não querer melindrar e querer dar apoio exige um “mas” dissimulado, encabulado, mas o “mas” o desmascara. É importante corrigir erros, apontar soluções, redescobrir caminhos, então procuremos fazê-lo com a objetividade carinhosa de quem se propõe a educar.
Habitualmente, o “mas” emprega duas inflexões de voz. A primeira é quase morrendo, encabulado como uma desculpa, um consolo: “olha, você é maravilhosa, inteligente... mas falta algo mais...” Outra é dita coma inflexão de voz autoritariamente maliciosa, condicional, como no caso do menino que queria ir ao parque só que antes precisava limpar o quarto. Esta inflexão de voz na pronúncia desse “mas” tem por objetivo tornar possível, através da barganha algo inicialmente improvável. É como um jogo ininterrupto que envolve sentimentos e emoções..
“Mas isso...mas aquilo”... é o eterno retornos do lero, lero que se inicia com uma frase. Quisera podermos ter a auto definição das imagens, sem sermos reticentes deixando perceber que apesar da boas intenções temos sempre mais uma coisa a dizer nas entrelinhas dos pensamentos, que dizem...mas não revelam o que realmente se quer dizer...
Ana Izabel JS
Enviado por Ana Izabel JS em 07/12/2013
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